segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O filme que não deveria ter existido.



"Para que ser alguém se eu já sou uma lenda?".
A metalinguagem talvez acidental de Robert Rodriguez na voz de Danny Trejo resume para mim o seu mais recente filme, Machete. Quando apresentado como um trailer forjado no início de Planeta Terror, em 2007, o suposto filme causou frisson por sua ousadia e tosqueira, precedendo a - ouso dizer - genial película pós-apocalíptica. Em Planeta Terror, vemos um diretor-roteirista ciente de sua obra, cujo despretenciosismo(?) nos faz crer que ela foi concebida de forma natural e sublime. O grotesco, o repulsivo, o asqueroso. Este é o Rodriguez que nos diverte sem pudor e com cenas criativas, mas certamente desgostosas para mães e tias religiosas.

E então alguém, em um belo domingo ensolarado - suponho -, o aborda: "cara, você PRECISA fazer um filme daquele trailer do mexicano". Pronto, devidamente inceptado. A ideia ganha força e tamanho na mente eclética do talentoso diretor, e tão logo ele reúne um elenco absolutamente entusiasmante, do outrora-porem-eterno brucutu Steven Seagal à lenda pulsante chamada Robert DeNiro - nem entrarei nos méritos feromônicos para não me exaltar em minhas opiniões viris. Só que, apesar de contar com um roteiro convincente - supondo que ele foi escrito com o intuito de englobar as cenas "soltas" do trailer -, o filme acaba parecendo uma piada prolongada por tempo demais, fazendo-a perder toda a graça. É como se Robert Rodriguez estivesse procurando aceitação em um grupo de pessoas e subitamente soltasse uma anedota impossível de não rir, mas logo em seguida, empolgado com a receptividade da mesma, tenta continuá-la à exaustão ao invés de conclui-la em seu ápice, exterminando a sua engraçadez. No caso, a tão hilária piada se chama Planeta Terror e o seu apêndice desnecessário leva a alcunha de Machete.

Como um filme solitário, enxergo-o como algo divertido e de qualidade (mesmo que uma qualidade trash-tarantinesca, de difícil digestão para muitos públicos). No entanto Machete já nasceu enraizado em seu predecessor, colocando-se no mesmo universo cinematográfico, por mais distintas que sejam as tramas.

Machete seria um filme muito melhor se permanecesse como lenda no imaginário dos espectadores, apesar de todas as suas qualidades inegáveis.

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